– Faaala Viajantes! Infelizmente é uma notícia que eu não gostaria de vir aqui publicar. A publicitária brasileira e mochileira de 26 anos, Juliana Marins, natural de Niterói, vivia o sonho de muitas mulheres: cruzar o mundo com coragem, liberdade e uma mochila nas costas. Após anos planejando sua grande viagem pelo Sudeste Asiático, escolheu a Indonésia como uma de suas paradas, mas o que deveria ser mais um capítulo vibrante da sua jornada transformou-se em uma tragédia que expôs falhas graves no sistema de resgate local e uma dolorosa sensação de impotência para familiares e amigos.
Ela vivia intensamente seus dias na estrada e era inspirada por sonhos grandiosos — descobrir culturas, sentir o vento de novos lugares e colecionar memórias reais, ela documentava cada passo, encantada com a vida e com a esperança de um futuro ainda mais repleto de aventuras.
Juliana era exatamente o tipo de pessoa que vive para sonhar alto, era descrevê-la como sorridente, cheia de energia, pronta para embarcar na próxima trip e ampliar seus horizontes com coragem e autenticidade, seu espírito aventureiro era contagiante: quem a conhecia fala de uma mulher que jamais teve medo de ir além — mesmo que os sonhos impliquem riscos.
No dia 21 de junho de 2025, durante uma trilha ao Monte Rinjani, na ilha de Lombok – Indonésia, Juliana pediu uma breve pausa por cansaço ao guia Ali Musthofa, que aos 20 anos atua como guia na região desde novembro de 2023 e costuma subir o Rinjani duas vezes por semana, diz ele que ficou apenas “três minutos” à frente de Juliana e voltou para procurá-la ao estranhar a demora da brasileira para chegar ao ponto de encontro e descobriu que ela havia caído para dentro do vulcão:

“Na verdade, eu não a deixei, mas esperei três minutos na frente dela, depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu, procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei, eu disse que a esperaria à frente, eu disse para ela descansar, percebi que ela havia caído quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la”, relatou Musthofa ao jornal O Globo.
Infelizmente, ela acabou escorregando por um trecho escorregadio e despencou cerca de 300 m, ficando em local de difícil acesso, apesar da “rápida mobilização de equipes locais e da Embaixada do Brasil”, em meio a neblina e terreno instável, o resgate não pôde ser imediato. A morte de Juliana Marins escancarou a falta de protocolos eficientes para atendimento emergencial a turistas em regiões remotas da Indonésia, o atraso na colaboração de informações por parte do Governo da Indonésia, mesmo sendo um dos destinos mais procurados do mundo (inclusive, por brasileiros), tanto a negligência como a demora no socorro revelam um sistema que ainda falha em proteger quem escolhe o país como rota de sonhos.
Ali Musthofa afirmou que tentou dizer a Juliana para esperar por ajuda:
“Liguei para a organização onde trabalho, pois não era possível ajudar a uma profundidade de cerca de 150 metros sem equipamentos de segurança, eles deram informações sobre a queda de Juliana para a equipe de resgate e após a equipe ter conhecimento das informações, correu para ajudar e preparar o equipamento necessário para o resgate”.

A morte de Juliana Marins não foi apenas uma tragédia marcada pela ausência de socorro rápido – foi também uma dura travessia para sua família, que viveu, à distância, os dias mais angustiantes de suas vidas; sem poder abraçá-la, sem poder estar ali para ajudá-la nos últimos momentos, os familiares de Juliana foram obrigados a enfrentar o que nenhuma mãe, pai ou irmã deveria enfrentar: a impotência diante do silêncio de um sistema que falhou.
A notícia que mudou tudo!
No dia 20 de junho, a família Marins recebeu as primeiras mensagens desencontradas: algo havia acontecido com Juliana, ela estava machucada, caída em uma trilha na ilha de Lombok, no vulcão Rinjani, mas ainda consciente, amigos e viajantes próximos a ela relataram o pedido de socorro, a localização aproximada e o clima tenso da espera, do outro lado do mundo, em uma casa comum em solo brasileiro, o tempo parou.
Imagine, você ficar no Brasil, esperando por respostas, com diferença de fuso, de idioma, recebendo fake news e notícias desencontradas de um parente seu, de sua irmã e dependendo exclusivamente de outros viajantes de várias partes do mundo e de nativos voluntários que se solidarizaram com a situação, pois foi assim que a irmã de Juliana seguiu e conseguiu chamar atenção do maior número de viajantes brasileiros pelo mundo, que a cada vídeo, compartilhamento, barulho nas redes sociais, conseguiu visibilidade do Itamaraty e das autoridades brasileiras.
Um cronograma de omissões!
21 de junho – O pedido de ajuda e a espera angustiante.
Juliana estava no vulcão Rijani que possui 3.726m, considerado o segundo maior vulcão da Indonésia e está situado na região do “Anel de Fogo” — uma área de terremotos e erupções vulcânicas frequentes que circunda praticamente toda a orla do Pacífico e sendo um popular destino de caminhada na ilha de Lombok.
Juliana tropeçou, escorregou e caiu a uma distância de cerca de 200 metros da trilha, por volta do meio-dia, um grupo que estava logo atrás e amigos estrangeiros subiram o drone e relataram a família que ela teria sofrido uma queda em uma área de difícil acesso, seu celular estava sem sinal mas os amigos conseguiram enviar mensagens pedindo socorro, o alerta foi dado imediatamente às autoridades locais, viram nas imagens que após a queda, ela conseguia apenas mover os braços e olhar para cima, mas estava sem água, comida, mochila ou agasalho.
22 de junho – Resposta lenta e falta de estrutura.
Mesmo com a localização aproximada e as informações repassadas por testemunhas, as equipes de resgate demoraram quase 24 horas para iniciar as buscas. Familiares, ainda no Brasil, começaram a mobilizar o consulado brasileiro na Indonésia e as redes sociais para pressionar por respostas e foi por conta da página – @resgatejulianamarins criada pela irmã da vítima, que o mundo acompanhou a luta pela vida da Juliana.
O pai de Juliana, Manoel Marins Filho, enfrentava dificuldades para chegar à Indonésia, tendo ficado preso no aeroporto de Lisboa devido ao fechamento do espaço aéreo do Catar por conta da guerra e apesar da mobilização diplomática da Embaixada do Brasil em Jacarta e dos esforços do Itamaraty, que envolviam contato de alto nível com autoridades indonésias para pedir reforços e o acompanhamento pessoal de funcionários da embaixada, os desafios impostos pela natureza e pelo terreno eram muitos.
23 de junho – O silêncio e o retorno das buscas.
O perfil oficial do Parque Nacional do Monte Rinjani – @btn_gn_rinjani informou que socorristas avistaram Juliana Marins e que ela havia descido mais e estava há 400m penhasco abaixo e com isso, finalmente, uma “equipe de resgate voluntária” foi deslocada para a área, no entanto, a operação foi improvisada, com falta de recursos, sem helicóptero e com alguns socorristas – @unitsar_lomboktimur que mesmo com experiência em terrenos acidentados, ainda fizeram lives em tempo real para que o mundo entendesse a urgência do caso, brasileiros viram que não houve tanta priorização no atendimento e fatores como clima, a altitude e a geografia desafiadora tornaram a busca lenta e desorganizada.
A angústia deu lugar ao desespero, pois haviam dito a família que ela tinha sido resgatada e que havia recebido comida e água, depois descobriram que era mentira e que inclusive forjaram um vídeo de resgate; mesmo com Juliana necessitando de socorro o parque @btn_gn_rinjani – seguia funcionando normalmente, inclusive com um grande fluxo de guias, sendo constatado e gravado por outros viajantes voluntários como o brasileiro nômade @kiki_por_ai que estava sendo quase que um repórter local, trazendo notícias em tempo real para os brasileiros que iniciaram por conta própria uma varredura on-line paralela, como @yngridvidal – @camila_puccini – @carolcaziuk – @lipeclat como esses perfis dos amigos de Juliana que inclusive montaram um grupo para se atualizarem e mais uma vez o drone amador foi utilizado e imagens não oficiais mostravam uma silhueta próxima ao local do acidente, mas em nenhum momento articularam: água, comida, um agasalho ou manta térmica, nada, Juliana seguia bravamente esperando qualquer tipo de ajuda.
24 de junho – A revolta da negligência e o luto.
A região do vulcão Rinjani é de difícil acesso, com terreno íngreme, muita neblina que reduz a visibilidade e pedras escorregadias devido ao sereno, para ter uma noção essa trilha são de dois a quatro dias, para aclimatação e se recuperar da pressão devido a altitude, fora que o vulcão ainda está “ativo” então aspirar gases tóxicos era inevitável e isso dificultava as operações de resgate, segundo a família, equipamentos como uma furadeira estavam posicionados para subir a montanha.
A mobilização nas redes sociais feita pela família pedia o envio de um helicóptero como última esperança para o resgate, não sabíamos mais se ela ainda apresentava sinais de que teria sobrevivido por horas após a queda, o que reforçou a suspeita de que, com um resgate ágil, sua vida poderia ter sido salva. A confirmação da morte veio como um choque e a indignação cresceu, o corpo de Juliana foi encontrada há 600m e com a notícia espalhada pelo Brasil pelas por redes de viajantes ao redor do mundo, iniciou-se uma onda de comoção e protestos. Familiares e organizações ligadas aos direitos de mulheres viajantes cobraram explicações das autoridades indonésias, o governo brasileiro, por meio do Itamaraty, divulgou nota pedindo esclarecimentos e providências sobre a conduta do resgate local. Juliana não será esquecida, sua história, além de inspirar tantas outras mulheres a ocuparem o mundo com liberdade, agora também exige que essas rotas sejam seguras, respeitadas e humanas.
O corpo de Juliana Marins será levado até o Posto Sembalun, em seguida, será transportada de aeronave ao Hospital Bayangkara, ela será içada na quarta-feira pelo horário local, as informações foram divulgadas por autoridades do país asiático, segundo as autoridades da equipe Assistência de Busca e Salvamento em acidentes e desastres, o resgate deve começar somente às 6h no horário local por conta do clima desfavorável e da visibilidade muito limitada. O que tudo indica é que o translado de corpo não pode ser custeado com recursos públicos, segundo decreto federal, já o Ministério das Relações Exteriores pode auxiliar a família com assistência consular, inclusive para obtenção do atestado de óbito.
💬 #RôProMundo – Juliana era uma mulher cheia de planos, de coragem e de luz, sua ausência agora reverbera como um grito. Não é apenas uma tragédia pessoal. É um alerta. É preciso repensar a forma como vidas estrangeiras – especialmente de mulheres viajantes – são tratadas quando mais precisam de cuidado, infelizmente, sua chama se apagou antes do tempo, mas sua trajetória permanece em cada registro, em cada depoimento, em cada imagem de mochila às costas diante de paisagens novas. Juliana nos lembra que viver intensamente é também enfrentar incertezas — e que, mesmo quando a história não tem um final feliz, o brilho da caminhada nunca se apaga.